Muitos acham estranha a preocupação demonstrada por aqueles que, não apreciando o sujeito e não lhe reconhecendo qualidades por ai além, criticam Passos Coelho constantemente. Ora, porque me preocupo com Passos? Tentarei dar uma resposta abreviada:
1) Em primeiro lugar, porque reconheço em Passos as qualidades mediáticas para chegar a líder do PSD e a primeiro-ministro do país. Isso é ponto assente: Passos tem perfil mediático e boa capacidade de comunicação, e num país como o nosso, tal é mais do que suficiente para alcançar o poder.
2) Contudo, essas qualidades, úteis (diria mesmo obrigatórias) a qualquer político, sendo suficientes para alcançar o poder, não são suficientes para governar bem. E ai está o ponto complicado: quais as qualidades para governar bem. E é a falta de qualidades para dar um bom governante que noto constantemente em Passos, quer fruto de mero feeling (enfim, a que mais recorrer em homem de tão reduzido curriculum), quer por não apreciar muitos dos seus apoiantes, quer por indicios como a da sua posição sobre o TGV ou a CGD.
3) Sócrates. O fantasma da repetição de uma governação tipo Sócrates é terrivelmente assustador. Sócrates é o exemplo tipico de alguém que tem as qualidades mediáticas para atingir o poder mas, tendo-o obtido, revela-se um péssimo governante. Ora, Passos aparenta-se perante mim como um sujeito saido do reflexo de um espelho em que Sócrates mirava-se. Pior ainda, um Sócrates versão B, pois ainda é mais gravoso quando o tipo que não sabe governar aparenta estar do lado da direita (e digo aparenta porque, nem Passos é um tipo liberal, como achou por bem camuflar-se, como até considero que é um tipo ainda mais à esquerda do que Ferreira Leite).
4) A situação financeira do país. Portugal está num daqueles momentos na história em que uma falha na governação tem repercussões fortissimas no nível de vida dos seus habitantes. Noutras circunstâncias, poderiamos arriscar com um político inexperiente, para ver no que dava. Mas na situação do país, o risco aumentou consideravelmente e não é tempo de andar a brincar aos políticos. Quer-se gente com provas dadas, na politica ou fora dela. Mas, em todo o caso, gente que já tenha demonstrado saber o que vai fazer e o quanto é difícil a tarefa a empreender.