Anda tudo num alvoroço porque existem umas escutas que confirmam que o primeiro-ministro mentiu na Assembleia da República quando se pronunciou sobre o caso TVI. Peço desculpa, meus caros, mas a mentira era evidente há muito. Só compreendo o barulho como manobra para manter o tema escutas ao primeiro-ministro à tona de água, mesmo porque, aparentemente, o conteúdo destas vai muito para além da descoberta que o primeiro-ministro mentiu. Ainda sobre a mentira, não é de negar a sua gravidade, mas o que nego é que o assunto só mereça atenção agora.
Em segundo lugar, também anda tudo em alvoroço porque a Sábado fez uma investigação onde apurou que os orgãos de comunicação sociais, nomeadamente o Público e o Sol, foram prejudicados pela publicidade feita por entidades de capital público. Ora, meu caros, mas alguém não sabia que assim era? Mais uma vez, não nego a gravidade do assunto, nego é que o assunto só mereça atenção agora.
No fundo, este é o país do faz de conta. Todos (ou quase todos, há sempre um ou outro mais ingénuo) sabemos o que se passa, mas ficamos à espera da confirmação do óbvio para abordarmos as coisas tal como elas são e para atribuir-lhes a gravidade de que se revestem. Outros há que, mesmo perante a descoberta do óbvio, continuam a tratar o assunto com pinças, não porque não saibam a gravidade do assunto em causa, mas sabem que o visado, o actual governo, mais propriamente o primeiro-ministro, é da sua área, e suspeitam que outro que lá vá parar, de outra área política, deixará tudo na mesma, por isso, mal por mal, antes este que outro. Estes últimos rapidamente evoluem para os que já nada de grave vêem nestas coisas: porque as coisas são o que são e sempre foram assim.
Portanto, meus caros, deixemos o primeiro-ministro descansar. Como não podem compreender essa primeira garantia que a sociedade portuguesa nos reserva: as coisas são o que são e sempre foram assim. Sempre foram assim e assim hão-de ser no futuro. Qualquer luta contra isso é uma luta inglória.