Febre de Leitura
Voltou, gosto sempre destas fases, leio sem parar. Consumo livro atrás de livro, afasto-me da televisão, do cinema, do computador, da actualidade, e dedico-me à leitura: os livros tornam-se o meu mundo. Procuro o silêncio, a paz, ficar a sós com o livro. Opto pela obra de um escritor e leio livro atrás de livro. Ler o mesmo autor é o ideal para mim nestas alturas, quando acabo uma obra, se gosto, fico sempre abatido por ter chegado ao fim. Ler outro livro do mesmo autor acaba por dar uma sensação de conforto, como se continuasse a navegar em águas conhecidas.
Leio Dostoiévski, Tolstói, Roth, McCarthy, Murakami. Gosto especialmente deste último, quem lê este blogue sabe que assim é. Leio Norwegian Wood e dou por mim continuamente a escutar Beatles. Leio a Sul da Fronteira, a Oeste do Sol, e começo a ouvir Nat King Cole. Absorvido que estou pelo universo do escritor japonês. Reparo como vários detalhes repetem-se história após história, é como se muitos livros fossem simples variações de uma composição brilhante. Nos livros de Murakami, surge muitas vezes um personagem que só gosta de ler os clássicos, pois esses são os que sobreviveram ao teste do tempo. Já pensei assim, também só lia obras com muitos anos de existência. Como se comprova agora, com os autores citados acima, há muito que abandonei essa regra. Ainda bem, há assuntos que só os contemporâneos conseguem abordar convenientemente.
Ontem, li o último livro de Murakami traduzido para português que me faltava. Ou deverei dizer hoje? Foi de madrugada, não consegui adormecer antes de desvendar o que constava na última página. Ainda hoje parto para outro. É nesta fase em que troco de autor que a febre se cura: é só apanhar alguém de quem não gosto. Milan Kundera aguarda-me, espero manter a febre por mais uns dias...