Governar à esquerda
Rui Tavares, hoje, no Público, escreve uma crónica onde afirma que "o eleitorado [...] quer ser governado à esquerda" e que "qualquer acordo à direita será feito contra uma maioria do eleitorado". Acaba a crónica a apelar à união entre PS, PCP e BE. Temos pena, mas Rui Tavares não tem razão. Os resultados de ontem, para infelicidade da extrema-esquerda, representaram uma viragem, ainda que pouco acentuada, do país à direita. Portanto, o que fica claro é que o eleitorado pretende que o futuro governo Sócrates governe mais à direita. Aliás, é curioso que sejam muitos daqueles que apontavam a governação de Sócrates como uma governação à direita, a incluir agora os votantes do PS no grupo da esquerda. Não foi o BE que sempre rejeitou qualquer acordo com o PS? Agora tem o que merece. E, eu que sou de direita, bem agradeço a José Sócrates por ter desmascarado Francisco Louçã como nenhum líder da dita direita teve a coragem de o fazer. Ao PCP e ao BE, as contas saíram furadas. Sobretudo ao BE, que nunca imaginou ser ultrapassado pelo CDS/PP e menos ainda imaginou que conseguindo a dupla PS+CDS a maioria absoluta, uma possível coligação PS+BE não a consiga.
O meu problema com estes resultados, contudo, é outro: o país virou à direita, mas não o suficiente para ter um governo de direita. A extrema-esquerda, que agora poderá lamentar-se por não conseguir influenciar a governação como pretendia, daqui a um ou dois anos, com 650 mil desempregados e um governo minoritário do PS desacreditado, poderá estar novamente a disputar eleições. Ao CDS/PP e ao PSD exige-se que saibam, sem forçar a queda imediata do PS neste momento, passar as responsabilidade dos futuros resultados negativos da governação do país, única e exclusivamente, para o PS. O jogo de xadrez está lançado e convém saber aplicar o cheque-mate.