Credibilidade
Deixem-me confessar que tenho muita dificuldade em olhar para esta lista e atribuir-lhe uma credibilidade por aí além. Como é normal nestas coisas, quando Franz Kafka era vivo ninguém previu que fosse tornar-se num dos maiores escritores do século XX, logo não teve direito a Nobel. Mas o que dizer por exemplo de Leo Tolstoi? A fama já tinha batido à porta quando o Nobel da Literatura começou a ser atribuido, teve o grande escritor russo direito ao seu momento de glória? Não. Atribuir um Nobel à norte-americana Pearl S.Buck em 1938 e deixar Virginia Wolf sem o seu, que morreu em 1941, devia ser só por si capaz de retirar qualquer credibilidade ao prémio. O argentino Jorge Luis Borges também não podia receber nenhum porque estava politicamente demasiado à direita. E Vladimir Nabokov é só por si um ensaio à cegueira, quando pensamos naqueles pelo qual o grande autor americano foi preterido. Por falar em ensaio à cegueira, alguém no seu perfeito juizo acha que em pleno século XX o melhor que Portugal teve para oferecer a nivel literário foi José Saramago? O século do grande Fernando Pessoa? Mas a lista dos não vencedores prolonga-se quase até ao infinito, incluindo nomes como Mark Twain, James Joyce ou Graham Greene, certamente longe desse génio literário que foi Winston Churchill.
No século XXI, e por muito que Jean-Marie Gustave Le Clézio merecesse o prémio, a insistência em deixar os grandes nomes americanos como Philip Roth, Comarc McCarthy ou Don DeLillo de fora dos possíveis vencedores não é só errada, é absolutamente cancerigena para o estatuto do prémio, mas a olhar à história do mesmo, faz jus a esta.